Em email de 19 de setembro - amiga Madalena Tavares de Miranda
Querida Cida.
Gostei muito da saga familiar que está escrevendo,
iniciativa brilhante de quem alegra a todos com "causos"
vivenciados pelas pessoas que ama e guarda na memória.
Certamente também no coração.
Estou lendo " Paula", de Izabel Allende, um romance autobiográfico,
escrito durante o período em que a filha esteve em coma na Espanha e
me fez em momentos de certa comicidade ligada a personagens familiares,
lembrar de sua saga. E deixo um recado: Já imaginou a riqueza de
seus textos se enxerta nele pinceladas do contexto de época de seus personagens?!
Sua escrita está perfeita, amiga. Além do talento, está explícita sua cultura
literária, fruto de muitas e boas leituras.
Um grande e terno abraço.
Madá
Luciana Robaina TerraMuito Boa a saga! ADOREII!!!! Não sabia q vc escrevia, Parabéns!
BJSSSSS18 set
ISABELA BelaTia Cida , Que maravilha!!!!! Como eu queria ter feito parte da família nesta época. Aqui tá um imenso vazio,sem o alicerce da família que era tia Ceção,a dor não passa, a ferida não cicatriza,não um momento se quer da minha vida que não penso nela,era muito presente em todos os momentos,mas eu tenho uma experiência maravilhosa pra te contar e não posso liberar isso por orkut,quando vc vier pra casa da babi,eu lhe conto o que Deus me concedeu e o fato me confortou muito.ELA SEMPRE ESTARÁ VIVA DENTRO DAS NOSSAS LEMBRANÇAS... Fique com Deus tia Cida e eu quero te ver logo! bjs!
2 set - Vivian/ MauricioLi. Adorei! Parabéns! Bjs.2 set
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
CRENDICES E OUTRAS HISTÓRIAS
DE ANJOS LADAINHAS E PENITENTES
A nossa chave, a nossa Lélia, que tanto abriu portas e mostrou travessuras, encontra agora uma parceira, não menos importante: A TESOURA DE NENÊ. Acreditem: ela não tem nome, mas existe e eu a tenho! Entrou para a família em 1910 para fazer o enxoval de Jarbas. Hoje, cem anos depois, ela mora em Cordeiro/RJ-Rua São Sebastião, 139. É uma senhora muito desgastada, da quarta idade, cheia de histórias. Depois de muito cortar roupas para a primeira e segunda geração dessa família começou a vestir anjos. Sabem quem eram os anjos? Cida e
Ceção! Lembrem-se, Lola também foi Coração de Jesus e a tesoura deve ter trabalhado. Acontece que as roupas de anjo foram muitas... Acontece que esses anjos fizeram história...
Foi assim:
O culto a Nossa Senhora Aparecida mobilizava a zona rural de Cambuci, precisamente a região da Cachoeira, de 1945 em diante. Eram anos difíceis e embora não acompanhássemos os noticiários (não havia TV), havia um terreno fértil para tais práticas em decorrência do período de guerra e dos fatos da política nacional. (A segunda guerra mundial terminara em 1945)
Somam-se ainda a oportunidade de convívio, lazer e socialização que as procissões proporcionavam à população rural.
UM QUADRO de bronze com a silhueta da santa gravada em relevo, mais ou menos do tamanho de um livro, foi adquirido. As famílias organizavam-se para receber a Santa que em suas casas passava a semana. As procissões então aconteciam, a população cantava: ”Daí-nos a Benção oh! Mãe, Querida, Nossa Senhora Aparecida!”
Preces eram feitas. Promessas eram cumpridas... Muitas promessas! Kleber, nosso Binho, estava lá! Quadro da Santa na mão, caminhando em procissão, as “anjas” primas ao seu lado. Estava curado de um sério problema: PARALISIA INFANTIL! Em decorrência da graça alcançada Joaquina fez promessa de não comer doce por um ano e nós, pestinhas que sempre fomos, comemos goiabada em sua frente durante 365 dias.
Não eram só rezas. Eram ladainhas em latim! E a pronuncia... Eram risos, crianças arteiras, jarras cheias de pererecas - para o nosso desespero, velas acesas, orelhas doendo... E doces, muitos doces... Quem os fazia? Vovó Nenê. E o que picotava o papel que embrulhava o doce? A tesoura, parceira de Lélia!
Havia o altar que era montado em cima da mesa da sala da família anfitriã, com caixotes em tamanho decrescente, cobertos com lençol colorido e cocha de renda ou crochê. As flores, colhidas no quintal ou ainda feitas de papel crepom. Nesse altar, jóia apresentada à fé, ficava o Quadro da Santa, as flores, nós – as anjas e os pedidos. Dessa devoção resultou a construção da Capela de Nossa Senhora Aparecida que hoje integra a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, claro em Cambuci /RJ.
Não podemos nos esquecer que foi nesse mesmo período que Jarbas foi a Urucânia – MG libertou-se do alcoolismo e que começou a devoção a Nossa Senhora das Graças.
Resta ainda Dizer que Tia Joaquina e Tia Maria eram Franciscanas, irmãs leigas da ordem de São Francisco, onde exerceram liderança, fizeram um grande trabalho social na Igreja de Porciúncula de Santana em Niterói/RJ.
Maria viveu a emoção de ter ido a Assis, Itália, rezar na terra onde viveu o seu Patrono.
José Renato foi granjeiro em Sobradinho - Brasília e a exemplo de sua mãe, a Francisco entregava a sua criação.
Aconteceu ainda Luisinha de Marilac, trabalho assistencial do qual Lena participou na qualidade de aluna do Colégio São Vicente de Paula, também em Niterói.
É claro que na medida em que a família crescia, filhos e netos casavam-se, outros Santos e Santas passaram a ouvir as nossas preces, porém o imaginário, o sonho e a saudade ficou perdido no meado do século XX.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
SUGESTÕES DE KLEBER
SUGESTÕES RECEBIDAS
KLEBER:
Após o corte da grama onde catávamos todos os resíduos ,todo o quintal era lavado com CREOLINA CRUZVALDINA devido ao coco de MENGO e MENGUISSI,nossos pastores.
2)Não esqueça de falar de DÁRIO,nosso lustrador oficial.(O Rei da Goma Laca)
3)Não esqueça ainda de nossa banda de tampa de panelas ,regida por mim ,Kleber ,com o grande musico Zé de Fulô.
4)Imperdoável não colocar a procissão de Nossa Senhora Aparecida que curou minha paralisia infantil . Da Capelinha até o Valão dos Gomes.
5) Quininha ,cumprindo a promessa que fez a São José passando 1 ano sem comer doces e nós de implicância comendo goiabada em sua frente.
Sem mais para o memento.
Beijo
Kleber.
2)Não esqueça de falar de DÁRIO,nosso lustrador oficial.(O Rei da Goma Laca)
3)Não esqueça ainda de nossa banda de tampa de panelas ,regida por mim ,Kleber ,com o grande musico Zé de Fulô.
4)Imperdoável não colocar a procissão de Nossa Senhora Aparecida que curou minha paralisia infantil . Da Capelinha até o Valão dos Gomes.
5) Quininha ,cumprindo a promessa que fez a São José passando 1 ano sem comer doces e nós de implicância comendo goiabada em sua frente.
Sem mais para o memento.
Beijo
Kleber.
Observo que essas sugestões serão incorporadas ao texto assim como as demais que espero receber de todos vocês. Esta saga é nossa e todos vamos escrever nela.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
A FAMÍLIA CRESCEU
Passados 100 anos do casamento de Nenê e Pompeu estamos na sexta geração da família. Esperamos que cada núcleo aqui formado continue contando essa história e escrevendo o que a sua emoção ditar.
Prima Ceção dizia que tudo isso era mentira da prima Cida.
Se for assim, vou continuar mentindo e escrevendo... Meus filhos: Marcus, Mabel, Maurício, minhas noras e genro: Maria Eneida, Vivian e Cal e minhas netas e neto: Maria Teresa, Anna Carolina, Beatriz e Júlio Marcus serão as minhas próximas vítimas.
Posso lhes assegurar que tudo isso é verdade e que essa verdade cabe no coração de todos nós!
Prima Ceção dizia que tudo isso era mentira da prima Cida.
Se for assim, vou continuar mentindo e escrevendo... Meus filhos: Marcus, Mabel, Maurício, minhas noras e genro: Maria Eneida, Vivian e Cal e minhas netas e neto: Maria Teresa, Anna Carolina, Beatriz e Júlio Marcus serão as minhas próximas vítimas.
Posso lhes assegurar que tudo isso é verdade e que essa verdade cabe no coração de todos nós!
RODAS DE LEITURA
Das histórias que nos foram passadas, nessa tradição familiar de contá-las, orgulhamo-nos do fato de Nenê, já no início do século XX, promover regularmente rodas de leitura. Como dizemos, ela era avançada para o seu tempo. Viajava, mandava os filhos para a cidade grande (Niterói) estudar, comprava óculos, panelas, tecidos para as comadres, mas, sobretudo livros para os netos e para as comadres.
Consta que vovó fazia um emissário à cidade toda semana comprar jornal no trem de ferro, trem expresso, que trazia passageiros, encomendas, jornais... Cabia ao estafeta, funcionário do expresso, entregar as encomendas, vender jornais, anunciar as próximas cidades e paradas, cuidar dos passageiros, etc.
O emissário de Nenê ao retornar era anunciado pelo trote do seu cavalo e à tardinha após a labuta, ao trabalho no campo, homens, mulheres e crianças aproximavam-se da casa do patrão, sentavam-se em roda no terreiro da casa e Nenê lia as notícias.
Era interprete, era mediadora!
Consta que todo jornal era lido e que num determinado dia um dos participantes, convidado para a roda, aí tomou conhecimento da morte de sua mãe quando Nenê lia a seção de anúncios fúnebres. E bom que se esclareça que os compradores de café e mascates em geral, conforme uso na época, costumavam pousar nas casas dos proprietários rurais.
Temos muito que aprender com a nossa avó, aprender a partilhar e a assumir nossa responsabilidade social.
Consta que vovó fazia um emissário à cidade toda semana comprar jornal no trem de ferro, trem expresso, que trazia passageiros, encomendas, jornais... Cabia ao estafeta, funcionário do expresso, entregar as encomendas, vender jornais, anunciar as próximas cidades e paradas, cuidar dos passageiros, etc.
O emissário de Nenê ao retornar era anunciado pelo trote do seu cavalo e à tardinha após a labuta, ao trabalho no campo, homens, mulheres e crianças aproximavam-se da casa do patrão, sentavam-se em roda no terreiro da casa e Nenê lia as notícias.
Era interprete, era mediadora!
Consta que todo jornal era lido e que num determinado dia um dos participantes, convidado para a roda, aí tomou conhecimento da morte de sua mãe quando Nenê lia a seção de anúncios fúnebres. E bom que se esclareça que os compradores de café e mascates em geral, conforme uso na época, costumavam pousar nas casas dos proprietários rurais.
Temos muito que aprender com a nossa avó, aprender a partilhar e a assumir nossa responsabilidade social.
QUITUTES PARA OS NETOS
Muito se falou que Nenê era uma grande cozinheira, mas ainda não foi dito o que mais nos traz saudade. Íamos para os banhos de cachoeira, peraltices outras, comitivas de Pompéu e ao voltar para casa os agrados em forma de guloseimas: eram pães em forma de bichos, biscoitos de polvilho (hoje conhecidos com coruja) e que com auxílio de um saco de confeiteiro escrevia o nome de cada um de nós... Mauro, Ceção, etc. etc.
Vovó forrava a parede da cozinha com papel manilha cor de rosa, daquele que fazia moldes, já existiam os pregos nesse local, um para cada neto e também para os amigos visitantes.. Aí eram pendurados esses agrados. Foram tantos que ficamos gordinhos!
Perguntamos então:
- Podemos ter saudade?
Como sempre existe mais um causo, lembramos que um dia apareceu na Bocaina um cozinheiro chamado Tiburcio. Ele pretendia dar aulas de culinária para vovó, suas filhas e pessoal da cozinha. Propunha ensinar fazer galinha virar peixe e outras falsidades.
Nenê que cozinhava até para o Senhor Perazzo receber Dom Antonio de Castro Maia, bispo da diocese de Campos, fazia bolos confeitados, até um apelidado de “monumento no deserto” não pode concordar com tamanha insensatez. Foi então que Basílio correu com Tiburcio.
Vovó forrava a parede da cozinha com papel manilha cor de rosa, daquele que fazia moldes, já existiam os pregos nesse local, um para cada neto e também para os amigos visitantes.. Aí eram pendurados esses agrados. Foram tantos que ficamos gordinhos!
Perguntamos então:
- Podemos ter saudade?
Como sempre existe mais um causo, lembramos que um dia apareceu na Bocaina um cozinheiro chamado Tiburcio. Ele pretendia dar aulas de culinária para vovó, suas filhas e pessoal da cozinha. Propunha ensinar fazer galinha virar peixe e outras falsidades.
Nenê que cozinhava até para o Senhor Perazzo receber Dom Antonio de Castro Maia, bispo da diocese de Campos, fazia bolos confeitados, até um apelidado de “monumento no deserto” não pode concordar com tamanha insensatez. Foi então que Basílio correu com Tiburcio.
AGRADOS DA ROÇA PARA A CIDADE E DA CIDADE PARA A ROÇA
A Estrada de Ferro Leopoldina era o meio usual de transportar pessoas, coisas e encomendas de Cambuci para Niterói. Foi através de uma dessas encomendas que um belo dia César recebeu um presente especial: uma leitoa viva!
- O que fazer?
- Como matar a leitoa?
Foi aí que Quininha teve a grande idéia: Colocou a bichinha numa bolsa de feira e saiu com Lena, Cida e Binho. Íamos, os três, em solidariedade e fazendo de conta que não era com a gente. Destino: um abatedouro que existia na praia das Flechas e que pertencia a um cunhado do noivo de Cida (Daud).
Essa história tinha que ser confusa, por isso o porco em plena praia de Icaraí pulou da bolsa. A praia cheia, todos correndo atrás do bicho, banhista e nós. A leitoa foi recuperada. Daud a matou e nós a comemos com pompa e circunstância!
É importante lembrar a delícia que era Icaraí: sua areia branca, água morna e limpa, seu trampolim (cartão postal da época), a mocidade bonita, feliz e glamorosa, mas que ainda usava maiô e bóia de pneu usado. (Era o retrato de uma época – meado do século XX)
- O que fazer?
- Como matar a leitoa?
Foi aí que Quininha teve a grande idéia: Colocou a bichinha numa bolsa de feira e saiu com Lena, Cida e Binho. Íamos, os três, em solidariedade e fazendo de conta que não era com a gente. Destino: um abatedouro que existia na praia das Flechas e que pertencia a um cunhado do noivo de Cida (Daud).
Essa história tinha que ser confusa, por isso o porco em plena praia de Icaraí pulou da bolsa. A praia cheia, todos correndo atrás do bicho, banhista e nós. A leitoa foi recuperada. Daud a matou e nós a comemos com pompa e circunstância!
É importante lembrar a delícia que era Icaraí: sua areia branca, água morna e limpa, seu trampolim (cartão postal da época), a mocidade bonita, feliz e glamorosa, mas que ainda usava maiô e bóia de pneu usado. (Era o retrato de uma época – meado do século XX)
Naquela época Joaquina morava na Alameda 24 de outubro, Santa Teresa e através da Alameda Carolina chegávamos ao Canto do Rio - praia de Icaraí e foi fazendo esse trajeto que corremos atrás da leitoa, nós e muitos outros, até a praia das Flechas. Era uma casa confortável, com um jardim gramado que César podava e que tínhamos de ajudar: varrer grama, carregar, jogar no lixo, tudo com cuidado e bem feito e desinfetado com a famosa creolina Cruzvaldina.Não podemos deixar de falar nos nossos pastores- Mengo e Menguissi- cachorros de estimação - que sujavam e nós limpávamos. Na conservação da casa atuava também Dario, outro agregado, que era o rei da goma laca - lustrador oficial que atendia ao padrão exigido
Era um suplicio! Eles obedeciam a moça bonita e a moça era Quininha , a amada de César.Tínhamos que fazer. Fazíamos. Gostaríamos de fazer de novo – todos nós!
Da cidade vinham os vestidos bonitos, as fantasias de carnaval que Joaquina fazia para as sobrinhas. Vinham na bagagem de vovó: maçãs, laranja Bahia, latas de biscoito coloridas cujo conteúdo era separado com papel branco corrugado e os biscoitos arrumados por feitio e sabor. Um luxo para a época. Porém o mais importante: cartilhas ilustradas que teimávamos em ler cágado quando a inscrição era jabuti. Também vinham livros de estórias, ilustrados, lindos e depois livros para moças, coleção cor de rosa, M. Dely (não sei se era essa a grafia – nunca foi boa nisso) Ensinou-nos a ler – VIVA VOVÓ!
FESTAS E TIPOS POPULARES QUE ENCANTARAM A NOSSA INFÂNCIA
Dentro os tipos populares que enfeitaram a nossa infância não podemos de nos esquecer de Paulo Coelho e Izabel. Eles visitavam as famílias da região, cantavam, tocavam chocalhos e pandeiro e finalizando a apresentação pediam desculpas pelos erros daquela Fraca Orquestra. É oportuno que se diga que passados muitos e muitos anos, em 1979, nascia em Cordeiro-RJ, um bloco carnavalesco de nome Orquestra Fraca. Como não podia deixar de ser, por obra e graça dos netos e bisnetos de Nenê e Pompeu. A Orquestra Fraca foi criada por Marcus, neto de Maria José e seus amigos. Eram todos adolescentes e com este nome homenagearam as histórias que lhes eram contadas com carinho e saudade. Os filhos e netos de Joaquina também participavam dessa festa: Kleber vinha com a família de Belo Horizonte, assim como, Lena e Denise de Niterói. Era uma grande bagunça, uma grande alegria, uma família unida - 3 gerações em festa! Maria José acolhia todos!
Ainda existiu o cego, Santinho.
Ele era violeiro. Hospedáva-se em casa de Hermes Bastos, vizinho, parente e amigo da Cachoeira. Íamos todos para lá, sempre, e ficávamos encantados. Era o único cego que conhecíamos e ele andava sozinho e tocava violão e cantava modinhas.
Acredito que venha dessa época o interesse de Lena, filha de Joaquina, pela tarefa que hoje lhe cabe: ler para cegos em uma instituição social em Niterói-Rj, na qualidade de voluntária.
Da safra de artistas é bom que se fale em Dinho Azeredo, namorado de Ana, filha de compadre Cartola, agregado de César e Joaquina. Dinho cantava as músicas de Anísio Silva num programa de calouros da Rádio Nacional. Era uma grande emoção. Ele cantava: “quero beijar-te as mãos minha querida”. Ana chorava e nós aplaudíamos.
E aconteciam ainda os bailes de roça, ao som da sanfona, do gramofone ou do piano. Existia ainda Bibi, que tocava violino. O gramofone e o piano pertenciam à dona Zilda Gomes, vizinha, moradora no Valão dos Gomes, assim como Bibi que morava em sítio bem próximo. Desses bailes nunca nos esqueceremos da comadre Mariana para quem o cantor dizia: “ginga comadre Mariana, ginga comadre Mariana!...”
Costumávamos também ser dama de casamento. Num deles, na zona rural – caminho da Cachoeira casou-s Anita, filha de Fidélis Carvalho e Vivinha (família de Estolaninho). Cida foi dama. A festa animada. O noivo doutor, médico. Acontece que a cozinha fervilhava, quitutes saindo fresquinhos ou quentinhos. Tudo um primor. Mas daí, de repente, convidados vomitando por todo lado. Cena de filme de terror. Investiga-se de lá e de cá e descobre-se: - envenenamento por arsênico (um resto do veneno usado para matar formigas estava num armário. A cozinheira contratada para a festa o confundiu com trigo e misturou essa pequena sobra na lata da farinha. Usou para pastéis. Cida comeu dessa massa crua e passou muito mal. Os médicos convidados e o noivo mandaram que fossem batidas muitas e muitas claras de ovo e tomadas com água morna para provocar vômitos e cuidar do envenenamento. Estolaninho, prático, tirou e mandou tirar muito leite de vacas que em seu cavalo distribuiu nas casas dos envenenados. Salvaram-se todos e o casamento durou “na alegria e na tristeza até que a morte os separou”.
Também é da família de Fidelis Carvalho e Vivinha a oração que fazíamos quando caminhávamos no escuro e com medo de cobras nas estradas da Cachoeira ou da Bocaina, era assim:
“São Bento e água benta,
Jesus Cristo no altar,
Cobra que nos desejais mal
Deixa eu passar.” (esta oração faz parte da nossa infância e foi recordada por Expedito, sobrinho de Estolaninho, filho de sua irmã Vivinha.)
Vovó Nenê também fazia doces para o casamento das afilhadas (eram muitas), os ingredientes fornecidos pelas noivas nunca preenchiam as exigências dessa doceira e assim Estolaninho e Basílio tinham que “pagar o pato”. Outro que sempre se dava mal em tais festas era Mauro, o nosso Capitão (filho de Lola e Basílio). Cabia a ele a responsabilidade de levar os doces e ainda representar Nenê e Pompeu na cerimônia. Quando íamos todos era muito bom, muita festa, muita dança em “latada” (barraca montada com bambus), troca de roupa da noiva e de alguns convidados duas ou três vezes durante a festa. Quando ia sozinho ficava difícil, muito difícil!
Precisamos dizer que estes doces eram transportados em carro de bois e que este era o transporte usual na época. Nele era transportada toda a safra, fosse ela de cana de açúcar, café, ou outra, assim como móveis, lenha e ainda famílias para deslocamento na zona rural ou desta para a cidade, isto quando as viagens não eram feitas a cavalo.
Com relação ao carro de bois, que fique bem claro a sua importância. Na época a cultura da cana de açúcar era a principal atividade econômica da região e toda a produção, inclusive a nossa, era por ele transportada para a Companhia Minério Agrícola (usina de açúcar) por esses carros.
Bois em suas cangas, atrelados aos pares, num trabalho de força e coletivo, eram embalados pelo canto peculiar do carro - que mais parecia um lamento. Puxavam o “ouro branco”, faziam a economia girar, escoavam a produção. Obedeciam ao candeeiro com a sua vara de ferrão e à voz do carreiro que dizia os seus nomes – ei boi, ei Estrela, ei Malhado, vamos, ôa vamos!...
Um dia a usina abriu falência, suas cotas foram vendidas para uma usina do Estado de São Paulo e Cambuci nunca mais foi à mesma.
Mais tarde o Caminhão começou a ser usado, mas o que povoa a nossa infância é o caminhão do Senhor Zerinho, pai de Zélia que se casou com Antonio, filho de Jarbas e Lívia.
O carro de bois é o símbolo de uma época.
Lembramos também das histórias de Zeca Lacerda, primo “maluco” de tio Basílio. Zeca percorria a zona rural, pintava-se com sementes de urucum, procurava nascentes de água, obedecia a Lola literalmente. Certo dia Lola mandou que ele fosse comprar canela numa vendinha para fazer doce e ele entendeu que era canela, perna da moça que o atendeu. Foi uma correria um grande pavor. Foram muitas as loucuras deste cidadão.
Ainda na Bocaina, residia o casal Dona Lucila e o Senhor Veloso. Pedro Antonio ia a casa dele todos os dias, tomava o café todo no bico do bule, comia todo o almoço e ao casal só restava o recurso de ir à casa de Basílio e dizer: Dona Lola, o menino comeu e bebeu tudo, viemos almoçar!
Era este senhor quem fazia o azeite de mamona e por pouco não foi ele quem inventou o bio diesel. Certo dia ele ficou tuberculoso e não se sabe como Pedro não foi contaminado.
Na Cachoeira não podem ser esquecidos Olimpio Melo e sua mulher Madalena. Madalena vivia reclusa. O marido não a deixava sair de casa, sequer receber visitas. Ninguém a conhecia. Certo dia o marido adoeceu, não conseguia levantar-se. Ela teve que buscar socorro. Foi aí que Cida e Ceção deparararam-se com aquela mulher que gesticulava, não falava, suja, um espantalho! Saíram correndo e gritando. Maria José entrou em ação, conseguiu identificar a mulher e todos juntos fomos ajudar e conhecer aquele sítio que tanto nos amedrontava, que era cheio de cabritos e “causos de pavor”.
Desde então passamos a ajudar Madalena. Todas as vezes que o marido ia às compras ela fugia para a nossa casa para ver gente e comer melhor. Um dia Olimpio Melo foi brutalmente assassinado. Seu assassino julgado e condenado e Madalena foi acolhida por parentes que moravam em Niterói.
Nunca mais soubemos dela.
Ainda existiu o cego, Santinho.
Ele era violeiro. Hospedáva-se em casa de Hermes Bastos, vizinho, parente e amigo da Cachoeira. Íamos todos para lá, sempre, e ficávamos encantados. Era o único cego que conhecíamos e ele andava sozinho e tocava violão e cantava modinhas.
Acredito que venha dessa época o interesse de Lena, filha de Joaquina, pela tarefa que hoje lhe cabe: ler para cegos em uma instituição social em Niterói-Rj, na qualidade de voluntária.
Da safra de artistas é bom que se fale em Dinho Azeredo, namorado de Ana, filha de compadre Cartola, agregado de César e Joaquina. Dinho cantava as músicas de Anísio Silva num programa de calouros da Rádio Nacional. Era uma grande emoção. Ele cantava: “quero beijar-te as mãos minha querida”. Ana chorava e nós aplaudíamos.
E aconteciam ainda os bailes de roça, ao som da sanfona, do gramofone ou do piano. Existia ainda Bibi, que tocava violino. O gramofone e o piano pertenciam à dona Zilda Gomes, vizinha, moradora no Valão dos Gomes, assim como Bibi que morava em sítio bem próximo. Desses bailes nunca nos esqueceremos da comadre Mariana para quem o cantor dizia: “ginga comadre Mariana, ginga comadre Mariana!...”
Costumávamos também ser dama de casamento. Num deles, na zona rural – caminho da Cachoeira casou-s Anita, filha de Fidélis Carvalho e Vivinha (família de Estolaninho). Cida foi dama. A festa animada. O noivo doutor, médico. Acontece que a cozinha fervilhava, quitutes saindo fresquinhos ou quentinhos. Tudo um primor. Mas daí, de repente, convidados vomitando por todo lado. Cena de filme de terror. Investiga-se de lá e de cá e descobre-se: - envenenamento por arsênico (um resto do veneno usado para matar formigas estava num armário. A cozinheira contratada para a festa o confundiu com trigo e misturou essa pequena sobra na lata da farinha. Usou para pastéis. Cida comeu dessa massa crua e passou muito mal. Os médicos convidados e o noivo mandaram que fossem batidas muitas e muitas claras de ovo e tomadas com água morna para provocar vômitos e cuidar do envenenamento. Estolaninho, prático, tirou e mandou tirar muito leite de vacas que em seu cavalo distribuiu nas casas dos envenenados. Salvaram-se todos e o casamento durou “na alegria e na tristeza até que a morte os separou”.
Também é da família de Fidelis Carvalho e Vivinha a oração que fazíamos quando caminhávamos no escuro e com medo de cobras nas estradas da Cachoeira ou da Bocaina, era assim:
“São Bento e água benta,
Jesus Cristo no altar,
Cobra que nos desejais mal
Deixa eu passar.” (esta oração faz parte da nossa infância e foi recordada por Expedito, sobrinho de Estolaninho, filho de sua irmã Vivinha.)
Vovó Nenê também fazia doces para o casamento das afilhadas (eram muitas), os ingredientes fornecidos pelas noivas nunca preenchiam as exigências dessa doceira e assim Estolaninho e Basílio tinham que “pagar o pato”. Outro que sempre se dava mal em tais festas era Mauro, o nosso Capitão (filho de Lola e Basílio). Cabia a ele a responsabilidade de levar os doces e ainda representar Nenê e Pompeu na cerimônia. Quando íamos todos era muito bom, muita festa, muita dança em “latada” (barraca montada com bambus), troca de roupa da noiva e de alguns convidados duas ou três vezes durante a festa. Quando ia sozinho ficava difícil, muito difícil!
Precisamos dizer que estes doces eram transportados em carro de bois e que este era o transporte usual na época. Nele era transportada toda a safra, fosse ela de cana de açúcar, café, ou outra, assim como móveis, lenha e ainda famílias para deslocamento na zona rural ou desta para a cidade, isto quando as viagens não eram feitas a cavalo.
Com relação ao carro de bois, que fique bem claro a sua importância. Na época a cultura da cana de açúcar era a principal atividade econômica da região e toda a produção, inclusive a nossa, era por ele transportada para a Companhia Minério Agrícola (usina de açúcar) por esses carros.
Bois em suas cangas, atrelados aos pares, num trabalho de força e coletivo, eram embalados pelo canto peculiar do carro - que mais parecia um lamento. Puxavam o “ouro branco”, faziam a economia girar, escoavam a produção. Obedeciam ao candeeiro com a sua vara de ferrão e à voz do carreiro que dizia os seus nomes – ei boi, ei Estrela, ei Malhado, vamos, ôa vamos!...
Um dia a usina abriu falência, suas cotas foram vendidas para uma usina do Estado de São Paulo e Cambuci nunca mais foi à mesma.
Mais tarde o Caminhão começou a ser usado, mas o que povoa a nossa infância é o caminhão do Senhor Zerinho, pai de Zélia que se casou com Antonio, filho de Jarbas e Lívia.
O carro de bois é o símbolo de uma época.
Lembramos também das histórias de Zeca Lacerda, primo “maluco” de tio Basílio. Zeca percorria a zona rural, pintava-se com sementes de urucum, procurava nascentes de água, obedecia a Lola literalmente. Certo dia Lola mandou que ele fosse comprar canela numa vendinha para fazer doce e ele entendeu que era canela, perna da moça que o atendeu. Foi uma correria um grande pavor. Foram muitas as loucuras deste cidadão.
Ainda na Bocaina, residia o casal Dona Lucila e o Senhor Veloso. Pedro Antonio ia a casa dele todos os dias, tomava o café todo no bico do bule, comia todo o almoço e ao casal só restava o recurso de ir à casa de Basílio e dizer: Dona Lola, o menino comeu e bebeu tudo, viemos almoçar!
Era este senhor quem fazia o azeite de mamona e por pouco não foi ele quem inventou o bio diesel. Certo dia ele ficou tuberculoso e não se sabe como Pedro não foi contaminado.
Na Cachoeira não podem ser esquecidos Olimpio Melo e sua mulher Madalena. Madalena vivia reclusa. O marido não a deixava sair de casa, sequer receber visitas. Ninguém a conhecia. Certo dia o marido adoeceu, não conseguia levantar-se. Ela teve que buscar socorro. Foi aí que Cida e Ceção deparararam-se com aquela mulher que gesticulava, não falava, suja, um espantalho! Saíram correndo e gritando. Maria José entrou em ação, conseguiu identificar a mulher e todos juntos fomos ajudar e conhecer aquele sítio que tanto nos amedrontava, que era cheio de cabritos e “causos de pavor”.
Desde então passamos a ajudar Madalena. Todas as vezes que o marido ia às compras ela fugia para a nossa casa para ver gente e comer melhor. Um dia Olimpio Melo foi brutalmente assassinado. Seu assassino julgado e condenado e Madalena foi acolhida por parentes que moravam em Niterói.
Nunca mais soubemos dela.
Tínhamos uma banda de música de tampas de lata e o nosso maestro era Zé de Fulô. Era uma desafinação só, e nós além de desastrados ficávamos mais atrapalhados ao acompanhar o maestro. Zé era da turma de Tio Clemente, portanto, um jovem especial que tinha um embornal de leitura e era nosso aluno! Acho que essa banda era a Orquestra Fraca dos netos de Nenê e Pompéu,enquanto a de Cordeiro era a dos bisnetos.
FOLCLORE, FOLIA DE REIS E CAXAMBU
Como não podia deixar de ser, nós- os netos de Nenê e Pompeu, fizemos amizade com as figuras populares do lugar e tivemos contato íntimo com as manifestações folclóricas cultivadas em nossa Cambuci na segunda metade do século XX.
Dentre estas destacamos A FOLIA DE REIS e o CAXAMBU.
Vivemos, a cada ano, a emoção da Folia de Reis. Era sempre na época do Natal. Os primos e os amigos ficavam concentrados na nossa casa na Cachoeira. Deitávamos cedo e ficávamos aguardando a batida da porteira que anunciava a chegada dos reis e quietinhos aguardávamos o canto dos foliões anunciando a chegada e pedindo permissão para entrar na nossa casa. Era o Menino Deus que chegava... Sua bandeira e seu séquito seriam recebidos após a terceira invocação: “... e abre a porta e recebei esta bandeira”. A emoção era grande, a bandeira recebida por meu pai percorria abençoando toda casa e toda a família. Era então cantada a história do nascimento do Menino Jesus e a perseguição por Ele sofrida pelos soldados de Herodes. Chegado o momento da apresentação dos palhaços que usavam máscaras terríveis de pelo de cabra, roupas coloridas de chita enfeitadas com fitas, espelhos, franjas e dançavam e diziam versos, o medo inicial era substituído pela alegria. Cada criança jogava moedas para o palhaço em reconhecimento aos versos que ele improvisava e cujo assunto era os causos da nossa família, da nossa roça, da nossa plantação. Garanto que era muita emoção! As moedas eram muitas. Significativa era a contribuição colocada na bandeira, para festa da folia. Saboroso e farto o lanche a eles servidos e preparado pela vovó Nenê. São memoráveis estas noites de amigos, medo, encantamento, folclore... Quanta saudade!
O CAXAMBU nos remete à Bocaina, casa de Lola, dia 29 de junho, Dia de São Pedro, aniversário de Pedro Antonio. Dia de festa, comilança, doces de Vovó Nenê... Terreiro da Bocaina enfeitado, fogueira acesa, primos, amigos, colonos... Tudo era festa. É aí que acontece a roda de Caxambu. Os tambores tocam, a cuíca puxa o canto e então mensagens em código são passadas e cabe a um dos participantes decodificá-las. Ficávamos muito impressionados, aquilo para nós era muito difícil. Sabíamos, então, que aquela era a maneira pela qual os escravos se comunicavam de senzala para senzala denunciando abusos, planejando fugas... Isto nos foi ensinado por Basílio e revivido muitas e muitas vezes. Vida longa ao Primo Pedro cujo aniversário nos proporcionava alegria, reflexão e cultura!
Dentre estas destacamos A FOLIA DE REIS e o CAXAMBU.
Vivemos, a cada ano, a emoção da Folia de Reis. Era sempre na época do Natal. Os primos e os amigos ficavam concentrados na nossa casa na Cachoeira. Deitávamos cedo e ficávamos aguardando a batida da porteira que anunciava a chegada dos reis e quietinhos aguardávamos o canto dos foliões anunciando a chegada e pedindo permissão para entrar na nossa casa. Era o Menino Deus que chegava... Sua bandeira e seu séquito seriam recebidos após a terceira invocação: “... e abre a porta e recebei esta bandeira”. A emoção era grande, a bandeira recebida por meu pai percorria abençoando toda casa e toda a família. Era então cantada a história do nascimento do Menino Jesus e a perseguição por Ele sofrida pelos soldados de Herodes. Chegado o momento da apresentação dos palhaços que usavam máscaras terríveis de pelo de cabra, roupas coloridas de chita enfeitadas com fitas, espelhos, franjas e dançavam e diziam versos, o medo inicial era substituído pela alegria. Cada criança jogava moedas para o palhaço em reconhecimento aos versos que ele improvisava e cujo assunto era os causos da nossa família, da nossa roça, da nossa plantação. Garanto que era muita emoção! As moedas eram muitas. Significativa era a contribuição colocada na bandeira, para festa da folia. Saboroso e farto o lanche a eles servidos e preparado pela vovó Nenê. São memoráveis estas noites de amigos, medo, encantamento, folclore... Quanta saudade!
O CAXAMBU nos remete à Bocaina, casa de Lola, dia 29 de junho, Dia de São Pedro, aniversário de Pedro Antonio. Dia de festa, comilança, doces de Vovó Nenê... Terreiro da Bocaina enfeitado, fogueira acesa, primos, amigos, colonos... Tudo era festa. É aí que acontece a roda de Caxambu. Os tambores tocam, a cuíca puxa o canto e então mensagens em código são passadas e cabe a um dos participantes decodificá-las. Ficávamos muito impressionados, aquilo para nós era muito difícil. Sabíamos, então, que aquela era a maneira pela qual os escravos se comunicavam de senzala para senzala denunciando abusos, planejando fugas... Isto nos foi ensinado por Basílio e revivido muitas e muitas vezes. Vida longa ao Primo Pedro cujo aniversário nos proporcionava alegria, reflexão e cultura!
ASSOMBRAÇÕES, FANTASMAS E ALMAS PENADAS
Como todas as crianças, também nós gostávamos dessas histórias.
O terreno era fértil. Aonde íamos entravamos o cenário perfeito: a cachoeira e o cemitério.
A cachoeira onde tomávamos banho em companhia de patos e gansos, o riacho que cortava a nossa plantação de arroz era, e ainda é visitado por uma noiva nas noites de lua cheia.
Essa história, até hoje, faz parte do folclore local.
A noiva é nossa: os antepassados da família do meu pai (Antonio/Titino ou Estolaninho, como preferir) proprietários deste cenário criaram uma prima muito bonita de rosto, mas portadora de um defeito físico que prejudicava o seu caminhar.
Estava ela num baile quando foi convidada a dançar. O cavalheiro não a conhecia e por isso espantou-se com o seu passo de dança. Riu, zoou como se diz hoje. Na madrugada desse mesmo dia ela jogou-se na cachoeira e uma alma penada vestida de noiva nasceu. A noiva é nossa!
Aconteceu ainda o seguinte assombramento: Morreu uma prima de Estolaninho e muitas crianças ficaram órfãs. Os parentes foram convidados a assumir estas crianças. Caberia a ele e a sua mulher, Maria José, a responsabilidade de cuidar de um menino de nome Anísio. Maria José recusou-se. Foi então que nas primeiras horas da madrugada, logo após Estolaninho ir para a lida do canavial que a porta do quarto se abriu. Maria José viu entrar uma moça clara, cabelos castanhos, magra, vestido estampado que a ela se dirigiu assim:
- “por que você não quer cuidar do meu filho? Você também é mãe”!
Nenê no quarto ao lado perguntou à filha com quem ela estava conversando e ela respondeu que era com a mãe de Anísio. Vovó veio ao seu encontro e a moça da mesma forma que chegou, foi embora. Convocaram os parentes, a descrição combinava com a da finada, inclusive o figurino. Moral da história: por remorso ou medo cuidaram de Anísio, lhe deram carinho, escola e um cavalo. Quando crescido pode voltar para a casa paterna e levou o seu cavalo. Nunca mais vimos Anísio.
Já foi dito que andávamos atrás de vovó. Quando ela estava na casa de um filho ou filha mandava que vovô levasse seus doces e pães para presentear os demais. Vovô andava com os netos em comitiva. Ele em seu cavalo Pachola e cada um de nós no seu próprio cavalo. O meu era o Ialú, no qual eu era a rainha da cachoeira.
Nunca tivemos medo de cemitério nem de mortos. Nossa avó desde muito cedo nos levava a velório. Plantava flores e em nossa companhia as levava para os velórios das criancinhas e outras colonos que morriam na Cachoeira ou na Bocaina. Os caixões (urnas) eram feitos por carpinteiro ou prático nos quintais das casas, quando necessário. Era uma armação de madeira coberta de tecido roxo, branco, rosa, azul se para adulto, virgem, menino ou menina. Dependendo da importância do morto, enfeitado com galões e afins. Nossos avós e pais respeitavam a vida e a morte, falavam conosco da importância da de solidariedade, responsabilidade para com os trabalhadores, necessidade de socorro e prevenção, combate a mortalidade infantil, etc.
Foi assim que aprendemos!
Vovó não era de freqüentar igreja ou de rezar muito, embora tivesse sua santa de devoção e na parede do seu quarto uma cantoneira de madeira com a imagem da mesma: Nossa Senhora da Apparecida.
Agradecemos a herança de participação e responsabilidade social, exemplo que imprimiu em todos nós.
Acontece que no caminho da Bocaina havia um cemitério velho e abandonado, Cemitério do Nico Terra (parente de Basílio). Aí era o nosso Oasis...
Entrávamos no campo santo, amarrávamos o nosso cavalo no fim do terreno, no meio das árvores, fora do alcance do olhar de quem passasse na estrada. Brincávamos, brincávamos muito! Colhíamos mel, separávamos ossos dos falecidos para vovô nos ensinar os nomes. Foram as primeiras e as mais ricas aulas de anatomia de nossas vidas. Fazíamos pic-nic num túmulo mais conservado e com uma grade. Esse era o túmulo de Dona Minervina Cruz, minha tetravó paterna.
Como vê, tudo gira em torno da família que tinha muitos agregados, uma chave misteriosa e tem ainda uma tesoura centenária.
Acontece que começaram os rumores: - o cemitério do Nico Terra está assombrado, anjinhos brincam aí, dão risadas...
O medo foi estabelecido, ampliado, multiplicado. Ninguém mais passava aí depois que escurecia... As meninas de Pompeu descobriram o mistério: éramos nós indo ou vindo da Bocaina!
O terreno era fértil. Aonde íamos entravamos o cenário perfeito: a cachoeira e o cemitério.
A cachoeira onde tomávamos banho em companhia de patos e gansos, o riacho que cortava a nossa plantação de arroz era, e ainda é visitado por uma noiva nas noites de lua cheia.
Essa história, até hoje, faz parte do folclore local.
A noiva é nossa: os antepassados da família do meu pai (Antonio/Titino ou Estolaninho, como preferir) proprietários deste cenário criaram uma prima muito bonita de rosto, mas portadora de um defeito físico que prejudicava o seu caminhar.
Estava ela num baile quando foi convidada a dançar. O cavalheiro não a conhecia e por isso espantou-se com o seu passo de dança. Riu, zoou como se diz hoje. Na madrugada desse mesmo dia ela jogou-se na cachoeira e uma alma penada vestida de noiva nasceu. A noiva é nossa!
Aconteceu ainda o seguinte assombramento: Morreu uma prima de Estolaninho e muitas crianças ficaram órfãs. Os parentes foram convidados a assumir estas crianças. Caberia a ele e a sua mulher, Maria José, a responsabilidade de cuidar de um menino de nome Anísio. Maria José recusou-se. Foi então que nas primeiras horas da madrugada, logo após Estolaninho ir para a lida do canavial que a porta do quarto se abriu. Maria José viu entrar uma moça clara, cabelos castanhos, magra, vestido estampado que a ela se dirigiu assim:
- “por que você não quer cuidar do meu filho? Você também é mãe”!
Nenê no quarto ao lado perguntou à filha com quem ela estava conversando e ela respondeu que era com a mãe de Anísio. Vovó veio ao seu encontro e a moça da mesma forma que chegou, foi embora. Convocaram os parentes, a descrição combinava com a da finada, inclusive o figurino. Moral da história: por remorso ou medo cuidaram de Anísio, lhe deram carinho, escola e um cavalo. Quando crescido pode voltar para a casa paterna e levou o seu cavalo. Nunca mais vimos Anísio.
Já foi dito que andávamos atrás de vovó. Quando ela estava na casa de um filho ou filha mandava que vovô levasse seus doces e pães para presentear os demais. Vovô andava com os netos em comitiva. Ele em seu cavalo Pachola e cada um de nós no seu próprio cavalo. O meu era o Ialú, no qual eu era a rainha da cachoeira.
Nunca tivemos medo de cemitério nem de mortos. Nossa avó desde muito cedo nos levava a velório. Plantava flores e em nossa companhia as levava para os velórios das criancinhas e outras colonos que morriam na Cachoeira ou na Bocaina. Os caixões (urnas) eram feitos por carpinteiro ou prático nos quintais das casas, quando necessário. Era uma armação de madeira coberta de tecido roxo, branco, rosa, azul se para adulto, virgem, menino ou menina. Dependendo da importância do morto, enfeitado com galões e afins. Nossos avós e pais respeitavam a vida e a morte, falavam conosco da importância da de solidariedade, responsabilidade para com os trabalhadores, necessidade de socorro e prevenção, combate a mortalidade infantil, etc.
Foi assim que aprendemos!
Vovó não era de freqüentar igreja ou de rezar muito, embora tivesse sua santa de devoção e na parede do seu quarto uma cantoneira de madeira com a imagem da mesma: Nossa Senhora da Apparecida.
Agradecemos a herança de participação e responsabilidade social, exemplo que imprimiu em todos nós.
Acontece que no caminho da Bocaina havia um cemitério velho e abandonado, Cemitério do Nico Terra (parente de Basílio). Aí era o nosso Oasis...
Entrávamos no campo santo, amarrávamos o nosso cavalo no fim do terreno, no meio das árvores, fora do alcance do olhar de quem passasse na estrada. Brincávamos, brincávamos muito! Colhíamos mel, separávamos ossos dos falecidos para vovô nos ensinar os nomes. Foram as primeiras e as mais ricas aulas de anatomia de nossas vidas. Fazíamos pic-nic num túmulo mais conservado e com uma grade. Esse era o túmulo de Dona Minervina Cruz, minha tetravó paterna.
Como vê, tudo gira em torno da família que tinha muitos agregados, uma chave misteriosa e tem ainda uma tesoura centenária.
Acontece que começaram os rumores: - o cemitério do Nico Terra está assombrado, anjinhos brincam aí, dão risadas...
O medo foi estabelecido, ampliado, multiplicado. Ninguém mais passava aí depois que escurecia... As meninas de Pompeu descobriram o mistério: éramos nós indo ou vindo da Bocaina!
terça-feira, 24 de agosto de 2010
OS MENINOS DE POMPEU
Jarbas foi o filho mais velho. Casou-se com Lívia Chaves, professora do ensino supletivo. Voltado ao comércio e a pecuária. Teve açougue.
A vida de tio Jarbas foi bonita, cheia de vitórias e de histórias. Foi dependente de álcool e por essa razão noivo durante 18 anos. Lívia, moça prendada e muito querida na família Bravo aguardava que ele vencesse o vício. Aconteceu que em 1947 surgiu na cidade mineira de Urucânia o Padre Antonio por intermédio do qual eram feitos milagres em nome de Nossa Senhora das Graças. Foi então que Jarbas foi em casa de sua irmã Maria José falar do milagreiro. Na época não havia TV. O rádio, os Jornais e revistas como O Cruzeiro davam ênfase a esses milagres. O sogro dela, participando da conversa sugeriu que Jarbas fosse a Urucânia em busca do milagre e parasse de beber.
Aconteceu, então, o primeiro milagre: Jarbas disse que só iria em companhia dele. Zezé não andava de carro, só ia onde a sua mula Vitória o levava. Desafio ou milagre... Não sei, mas Zezé ordenou:
-Jarbas, vá à cidade, alugue um caminhão, encha de doentes, aleijados, cegos e quem mais precise que irei comandar esta peregrinação.
-Maria José, chame todas as suas ajudantes e prepare muita comida para a viagem.
Assim foi feito. Foram a Urucânia. Jarbas voltou curado. Casou-se com Lívia. Teve Três filhos - Antonio das Graças, Maria das Graças e Jarbas Filho.
Todos os filhos de Jarbas foram batizados pelo padre Antonio e a cada viagem a Urucânia acontecia um milagre, iam e voltavam com Jarbas dirigindo o seu jipe numa estrada federal.
A casa de Jarbas e Lívia era repleta de carinho e mimos para todos nós, do casaco bordado que Lívia fazia para as sobrinhas irem à tradicional Festa de Maio de Cambuci ao queijo que Jarbas assava na brasa, chocolate, rosquinha, banana da terra, tudo preparado com fartura e grande carinho. Depois de adultos, quando menos esperávamos, Jarbas nos brindava mandando ou levando para nossas casas, mesmo longe, as guloseimas que gostamos. Foram tios adoráveis e seus filhos também o são.
Claudiolina é a grande figura agregada dessa família. Dificuldade de caminhar, mas facilidade de doação e amor! Era afilhada de Lívia e a ela se dedicou integralmente durante toda a vida da madrinha. Fazia parte do enxoval de casamento de Lívia.
Mário e Jaci mudaram-se depois para a cidade, numa casa em frente da casa do irmão Jarbas, na rua que dá acesso à Cachoeira e à Bocaina onde Lola e Maria José moravam. Os irmãos sempre juntos e Nenê sempre estreitando os laços familiares.
Mário adoeceu seriamente vindo a falecer após longo tratamento. A filha mais velha, Maria Izabel, era especial e diabética. Tia Jaci sempre foi muito respeitada e querida por todos, não só pela maneira com que lidava com as dificuldades pessoais como também pela doçura com que sempre nos tratou e ainda trata.Constituíram uma linda família.
Destaca-se ainda o amigo Ciro Moreira, como também Carivaldo que moravam no caminho de acesso à Bocaina e à Cachoeira.
Muito cedo foi morar em Niterói e como não podia deixar de ser, com ia Dita.
Casou-se com tia Laura. Tinha uma oficina de bicicletas em São Gonçalo-RJ. Tiveram os filhos Pompeu e Marisa. Tio José conviveu pouco com os sobrinhos em virtude da distância e da morte prematura. Seu filho Pompeu passou uma temporada com as tias em Cambuci. Foi um período feliz em que privamos da convivência com um primo levado, esperto, brincalhão. Retornou para junto de sua mãe, juntando esforços para conduzir os negócios da família. Sempre soubemos ser tia Laura uma mulher dinâmica. Quanto à Marisa, nunca tive oportunidade de conviver com ela. Tenho dela uma lembrança carinhosa e saudosa. Peço a ajuda de Lena para escrever sobre ela.
Tenho em minha memória afetiva o olhar amoroso de Vovó Nenê contemplado a foto de José trabalhando em sua oficina de bicicletas e lembro de uma vez ter visitado tia Laura em companhia de vovó Nenê.
Luiz casou-se com Iraci e teve uma filha, Jerusa. Moravam na Usina de Paineiras, próximo a Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. A distância dificultou a nossa convivência limitando-se às visitas que o casal e a filha fazia aos nossos avós e pais. Na época de nossa infância ir ao Espírito Santo era muito difícil. Lembro com saudade uma visita que ele nos fez (a mim e a Ceção) no internato do Colégio N.S. Auxiliadora em Campos. Vinha de uma visita à vovó pó ocasião da morte de tio José. Foi ele quem nos deu essa notícia. Provavelmente por solicitação dela. Eu e meu marido fomos ao casamento de Jerusa e conosco foram Tia Quina e Tia Dita. A festa foi em casa de um irmão de tia Iraci, em Cachoeiro de Itapemirim. Estive com Jerusa e filhos em casa de Tia Quina em Niterói e com ela perdi o contato. Acredito que seja fazendeira e atue no ramo da pecuária. Quero notícias dela.
Pompeuzinho casou-se com Maria das Dores Brandão Bravo. José Renato foi o único filho do casal. Pompeuzinho foi a primeira grande perda dos meus avós. Depois perderam José e Mário e Luiz. Sofreram muito e vovó até então alegre, dinâmica, evoluída para o seu tempo, nunca mais foi a mesma. Vestia-se de preto, ou preto e branco, não participava das festas da família, sequer foi ao casamento dos netos. Ela não soube conviver com essas perdas. Pompeuzinho também morava na Fazenda Santo Antão e trabalhava no alambique de cachaça. Adoeceu com “tifo” numa época em que não havia hospital em toda região. Foi montada uma sala com os melhores e possíveis recursos médicos na sede da Fazenda. Teria sido ele o primeiro doente da região a tomar penicilina, mas o remédio não chegou a tempo. Foi em vão. Maria que também contraíra doença tomou a medicação e, graças a Deus, escapou.
Renato era um bebê de poucos meses e sua mãe tinha apenas 18 anos. Segundo relato de Kleber, (nosso primo doutor - primeiro médico da família em cuja geração aconteceram os primeiros diplomas de nível universitário), Pompeuzinho teve todo o intestino perfurado e nessa cirurgia teve todas as suas vísceras retiradas, após sério impasse em que se viram os irmãos, na tentativa de suavizar as suas dores.Morreu sem senti-las!
Como tia Maria era bonita e quão bonitos eram os vestidos que ela fazia para nós,inclusive os vestidos de casamento das sobrinhas.
Ela nos deu muitos exemplos, foi nossa amiga e cúmplice. Era uma mulher de fé e coragem. Era Franciscana. Maria usou luto pela morte do marido durante seis anos e só o tirou a pedido cuidadoso e carinhoso de Joaquina.
O primo Renato e sua mãe também moraram em casa de Joaquina e César em busca de trabalho, progresso e estudo.
Conquistaram esse espaço!
Renato fixou residência em Brasília e sua mãe aí viveu seus últimos anos.
Renato também nos deixou muito moço após formar uma bonita família e conquistar grande sucesso nas áreas em que atuou: Banco Central do Brasil, suinocultura, restaurante e turismo rural. Os assuntos profissões, manifestações culturais e influências serão ainda tratadas pelos primos.
REFERÊNCIAS FAMILIARES DE NENÊ E POMPEU
Observe-se que na foto das meninas aparece Nenê, suas filhas e a sobrinha Aurora porque nessa família primo é sempre irmão e sobrinho é sempre filho. Aurora, Catarina, Carolina, Maria Carneiro, Rui, Jorge, Oswaldo e Antonio são os filhos de Tia Dita, amigos inseparáveis dos nossos pais.
Tinha também o irmão Machadinho e o irmão Teófilo que se casou com tia Minda,filha daquele famoso Sr Perazzo que fazia bailes, recebia o Sr Bispo, e que o sino da matriz ao tocar dizia: “bem, be-re-rem, Seu Perazzo vem”! São filhos desse casal e conosco ainda convivem filhos e netos: Olga, Machado (solteirão da escola de Tio Clemente), Raul, José Teófilo.
São irmãos de Pompeu: Clemente, Luiz e Cândido.
Nenê tinha outra irmã que era rica, tia Suíça, que morava em Pádua-RJ. Consta que adolescente enamorou-se de um seresteiro de nome Pedro Lacerda o que não agradou aos pais, razão porque se casou com um fazendeiro e desgostosa colocou o próprio piano no galinheiro e um pinico com malva (planta ornamental) na varanda. Eu não vi o pinico, mas os meus primos juram que é verdade. Nunca convivemos com os filhos de Neco e Suíça, o que lamentamos.
Tinha também o irmão Machadinho e o irmão Teófilo que se casou com tia Minda,filha daquele famoso Sr Perazzo que fazia bailes, recebia o Sr Bispo, e que o sino da matriz ao tocar dizia: “bem, be-re-rem, Seu Perazzo vem”! São filhos desse casal e conosco ainda convivem filhos e netos: Olga, Machado (solteirão da escola de Tio Clemente), Raul, José Teófilo.
São irmãos de Pompeu: Clemente, Luiz e Cândido.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
AS MENINAS DE POMPEU
Nenê e Pompeu tiveram oito filhos, dentre estes três meninas; Maria José, a mais velha, nascida em 19 de março de 1915. Era dia de São José e ainda o pai de Nenê era o senhor Zeca Machado, portanto, nome do Santo. Maria José não poderia ter recebido outro nome. Vieram depois Carolina e Joaquina cujos nomes homenagearam as mães de Nenê, vovó Carola, e a mãe de Pompeu, Joaquina. É bom dizer que antes delas nasceram quatro meninos e que entre Lola e Joaquina mais um menino, Pompeuzinho. Joaquina é, portanto, a caçula. Acredito que a ordem cronológica tenha aproximado muito estas irmãs que viveram uma história de confiança e dedicação recíproca, exemplo que deixaram para nós, seus filhos e sobrinhos. Amavam seus irmãos incondicionalmente e ensinaram a todos nós a importância da família, do partilhar, de junto rir ou chorar, daí amarmos tanto uns aos outros, embora hoje vivamos em lugares distantes. Essa história teve início em Cambuci-RJ.
Maria José (tia Zezé), Carolina (tia Lola) e Joaquina (tia Quina) encontraram grandes companheiros – Antônio, Basílio e César.
Maria José casou-se com Antônio Cruz Silveira, cognome Estolaninho filho de José Pereira da Silveira, conhecido como Zezé Estolano e Ignácia Cruz Silveira, mas era carinhosamente chamado por seus sobrinhos de Titino. Ambos tinham origem rural. Pompeu ligado ao café e Zezé à cana de açúcar. Foram morar na Cachoeira, sitio anexo à propriedade de Zezé, que adquiriram por ocasião do casamento. A Cachoeira passou a ser o paraíso da segunda geração, a dos netos de Pompeu e Nenê. Lá tudo era possível, andar na chuva, andar a cavalo, tomar banho de cachoeira, ter dor de barriga, participar de velórios, ladainhas, procissões... Ser anjo, ser criança. Não pensem que eram irresponsáveis, não, não eram, simplesmente acompanhavam as crianças e respeitavam suas fantasias enquanto os faziam mais que primos, mais que sobrinhos, mas família que se ama se respeita e se completa!
Somos mais que primos, Somos irmãos e a isto agradecemos aos nossos pais e aos nossos tios e tias. Eu, Apparecida, sou com muito orgulho a filha única de Estolaninho e Maria José e que foi a feliz dona do cavalo Ialú, no qual cavalgou seus sonhos de menina. Não tenho registro de como meus pais se conheceram. Acredito que tenham sido apresentados por amigos de seus pais, coisa usual nos anos de 1935. Sei que dançaram nos bailes realizados na casa da tradicional família Perazzo, em Cambuci RJ, em cuja zona rural ambos residiam e que então se apaixonaram.
Era o ano de1937. Em agosto de 1938, eu nasci. A vida era difícil, o trabalho árduo. O conforto doméstico seguia os padrões rurais da época. Não havia sequer rádio ou geladeira e a luz elétrica era gerada por dínamo movido pela força da água. Havia muita fartura. É o que hoje se diz-era um sítio auto-sustentável. Não havia automóveis, andávamos a cavalo, daí a importância de Ialú na minha infância. Nele eu ia à escola, nele eu integrava a comitiva de nosso avô Pompeu que levava todos os primos da casa de uma tia ou tio para outra, sempre na sombra de vovó Nenê. Lembro desse passado com carinho e saudade e tudo que mais queria era vivê-lo outra vez!
Como não poderia deixar de ser, nessa família também existiram amigos inseparáveis como Hermes Correa, Chiquinha e filhos ( da família Correa já citada como os grandes amigos de Pompeu e Nenê) e ainda Hermes Bastos e seus filhos Paulo e Marisa. Existiram também agregados e dentre eles destacamos: Sá Rosária, Jorge Meu, Jovem, Fulô, Zé de Fulô, Zeca Melo, Olimpio Melo, Inácia, Zinha Boi, compadre Demis e a filha Cidiná (composição de Cida com Inah, a filha do amigo Hermes Correa) dos quais falaremos em outro momento.
Carolina casou-se com Basílio, filho de Juca Terra e Elvira Garcia Terra. Também de família rural. Sei que e ele se encantou por Carolina durante uma festa religiosa na Igreja de N.S. da Conceição, na nossa querida Cambuci. Lola estava vestida de Coração de Jesus, linda, maravilhosa, olhou do alto do altar para o moço bonito, apaixonaram-se. O casal foi morar num sítio vizinho ao de Estolaninho e Maria José, mantendo próximas as irmãs o que facilitou a convivência das crianças. Em junho de l938, nascia a primeira filha, com o nome da padroeira da igreja onde Basílio e Lola enamoraram-se. A nossa querida Ceção que Deus acaba de levar em 12 de janeiro de 2010. Aí também nasceu Mauro Celso, o nosso Capitão e que também já encontrou o colo de Deus em junho 2004.
O casal mudou-se depois para a Fazenda Bocaina, também no primeiro distrito de Cambuci e aí nasceram Pedro Antonio, segundo consta o preferido de vovó Nenê e Maria Elvira, a feliz proprietária do gato Lamisteque e que se tornou madrinha de minha filha, a maior prova de carinho que lhe podia dar. Mudaram-se mais tarde para a sede do município para facilitar o acesso dos filhos ao colégio. Quando Basílio já estava doente, tendo sido hospitalizado algumas vezes, conheceram Fátima, a amaram incondicionalmente e a adotaram. Fatinha é uma prima muito amada e orgulhou muito os seus pais e irmãos.
É importante dizer que foi tia Lola quem me alfabetizou. Muito mais importante, porém não foi o fato de alfabetizar, mas sim o motivo que a levou a tal. As primas Cida e Ceção não podiam se separar. Cida foi estudar na escola rural próxima da Fazenda Bocaina, passar os dias da semana na casa de tia Lola, ficando assim perto da escola. Acontece que Ceção era mais esperta, aprendeu a ler antes dos sete anos, não havia Jardim de Infância, aprendeu sozinha. Lola não podia permitir que sua filha passasse a sobrinha... Foi então que enquanto cuidada do nenê e lavava as suas fraldas, ensinava a sobrinha a ler e a alcançar a sua própria filha.
Esse gesto e muitos outros, próprios da filhas de Pompeu e Nenê são jóias para serem guardadas e tesouros a serem apreciados e transmitidos aos nossos descendentes.
Dentre os agregados da Bocaina destacam-se Alperino, Miúda, os filhos, dona Zefina (a parteira que caçava tatu a noite toda) as pessoas que trabalhavam na fabricação de azeite de mamona, farinha de mandioca, fumo de rolo e ainda do pequeno armazém que chamávamos de fornecimento, onde vovô Pompeu e outro velho atendiam os colonos. Havia ainda a senhora Maria Parreira e filhos que nos passaram uma doença de pele que Maria José tratou com banhos de cachoeira e sabão preto de fabricação caseira. Quase matou a filha e os sobrinhos uma vez que a doença era sarampo!
Joaquina, a caçula das meninas de Pompeu e Nenê, casou-se com César de Sá Carvalho, moço de Niterói, então Capital do Estado do Rio de Janeiro.
Joaquina, menina bonita e prendada optou por mudar-se para a cidade grande com o objetivo de estudar e trabalhar. Como nesta família não podia ser diferente, foi morar com a irmã de Nenê, Benedita, carinhosamente chamada por tia Dita. É conveniente que se fale que Maria José e Lola, assim como os irmãos, também moraram com Tia Dita enquanto estudaram em Niterói. Assim a nossa mãe, nossas tias e tios também viveram experiências iguais as vividas por nós.
Tia Quina enamorou-se de César, casaram-se, tiveram três filhos: Maria Madalena, Kleber e Denise e adotaram Zezé-Maria José dos Santos Rocha, nascida na zona rural de Cambuci, que havia perdido sua mãe biológica. Foi vovó Nenê quem primeiro recebeu Zezé em seu coração. A levou para Niterói e para a família Bravo de Sá Carvalho. “É filha biológica de Ananias Marques da Rocha, o homem que dependente de álcool sabia conjugar o verbo: Eu amo, tu amas, ele amava Izabel – “santa mulher“ segundo vovó Nenê. Zezé tem irmãos biológicos, todos eles pessoas respeitadas na nossa Cambuci.
Lena recebeu o nome de nossa avó e Kleber o nome do pai de tio César.
Da mesma forma que a Cachoeira marcou todos os netos de Pompeu, a casa de Tio César e tia Quina marcou a nossa adolescência e a nossa vida adulta. Eu, Cida, morei com eles durante oito anos. Foi morando com eles que terminei o segundo grau, hoje ensino médio, fiz vestibular, cursei Serviço Social na UFF, namorei, SONHEI, fui muito amada e muito feliz. Estava aí quando Denise nasceu e não só eu, como também meu noivo sabíamos que para nós ela seria sempre nossa. Vivi nessa casa, meu segundo lar, momentos de alegria, de preocupação, de insegurança, de crise, meus e de toda família, porque era na casa de César e de Joaquina, nos braços de ambos que nós nos refugiávamos e que todos nós buscávamos segurança, apoio, compreensão e amor. Buscamos e sempre encontramos! Todos os meus primos têm uma história para contar dessa convivência e sei que todos com o coração, sentindo-se amados por eles além da vida, do tempo e da morte. Lena e Kleber, meus queridos, sei que vocês sentem como eu que o tempo que passamos com as meninas de Pompeu precisa ser conhecido e reconhecido por nossos filhos e netos. TODOS DEVERIAM TER UMA MÃE E UM PAI COMO NÓS TIVEMOS E QUE TODOS OS PRIMOS DEVERIAM SE AMAR COMO NÓS NOS AMAMOS!
Compadre Cartola, Silete, compadre Lavanca (andarilho do morro Santa Teresa que trazia sua mudança num caixote e a levava às costas usando o Principio de Arquimedes. Dê-me uma alavanca que levantarei o mundo: ele levantava o seu mundo, a sua casa. São estes os agregados mais famosos. Dentre os amigos, o criador do Clube do Carequinha-famoso palhaço de circo e TV, Walfrido dos Anjos, de cujo clube Lena e Kleber eram sócios de carteirinha e a prima Rodes e seu marido Alberto Prior - consertador oficial dos relógios da casa, são os amigos mais queridos.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
OS AGREGADOS
Neste universo, além da família, residiam os agregados:
Folly, menino especial, filho adotivo, que para aprender as letras quase acabou de enlouquecer. Pompeu, na ânsia de proporcionar ao menino acesso à leitura prometeu à professorinha, moça pobre e noiva, o vestido e a festa do casamento. Foi grande o empenho da mocinha, grande a cobrança em cima do pobre Folly e muito pior ainda o trabalho de Dona Nenê, matriarca dessa família, para consertar a cabeça do filho depois de tamanho esforço.
Havia ainda Guinó. Ele queria ver o satanás que, segundo lhe diziam, morava no quarto de Mário. Consta que as crianças da família Bravo, nos idos de 1917, já conheciam a histórias de “capetinhas” que hoje povoam novelas e literatura. Influenciaram Guino, fizeram medo, usaram de todo poder de persuasão e finalmente, numa tardinha, colocaram um espelho grande em frente à porta do já citado quarto; acenderam velas e ainda, tiraram Nenê e Pompeu
de casa. Foi então que Guino, apavorado, estabanadamente abriu a porta, deparou-se com a sua imagem no espelho, e aí, Deus nos acuda. Guinó gritou, correu,VIU O SATANÁS. Nenê chegou e o chinelo cantou! Segundo consta, de todas as crianças, Mário era o mais criativo e a ele é creditada esta arte.
Foi também Guinó que levaram na procissão de Três Irmãos, Distrito de Cambuci, com roupa especial e “alprecata” nova. Treinaram o passo do menino, dias e dias, para que ele fizesse bonito. No balanço do novo caminhar, Guinó perde a “alprecata” nova que voou para dentro do capinzal que margeava a estrada de ferro. As crianças Bravo foram intimadas a procurar o sapato no capinzal, capim gordura. Nada de achar “alprecata”. Estragaram a própria roupa e perderam a festa!
E o compadre Santinho?
Era colono de Pompeu. Pai de três filhos. Dizia-se realizado na vida: seus filhos estavam estudando. O mais velho ia ser “doutor,” o do meio, padre e a menina secretária de satanás. Santinho contava estórias todos os dias na parte da tarde. Era o trem de ferro que passava a noite inteira, tão grande que não conseguia contar todos os vagões e não o deixava dormir e as crianças descansarem para o estudo. Foi ainda a sua filha, a futura secretária de satanás, que o rodamoinho de vento levou para os ares e que ele conseguiu com um salto, de cima da porteira, pegar pelo pé e trazer para as reinações dessas “adoráveis crianças”, nossos pais.
Santinho tinha ainda plantação de mandioca e uma criação de porcos. As raízes da planta ficaram tão compridas e grossas que atravessaram o rio Paraíba e era caminhando dentro do túnel que formavam que seus porcos iam fuçar na ilha. ( observo que o caso dos porcos me foi contado por Lola, uma neta de Papai Correa no mês de maio de 2010, portanto Santinho não é criação minha, como dizia a prima Ceção)
Estes são alguns dos “causos” dos quais me lembro, para os outros causos peço ajuda a vocês, meus primos muito amados.
De todas as pessoas que conviveram com a família Bravo, destacamos a família Correa.
Papai Correa e Mama, Nenê e Pompéu foram grandes amigos. Cuidaram dos filhos reciprocamente, como se fossem seus, e os acompanharam enquanto viveram. Os filhos deles consideramos tios. São eles; Morena, Carmélia, Hermes, Antonio. Todos fazem parte da nossa história, foram muito amados por nossos avós e nossos pais. Eram vizinhos no tempo dessas reinações.
CLEMENTE
Tio Clemente, irmão de Pompeu, maluco para a ala avançada da família, sistemático para a ala conservadora, era o feliz proprietário de Lélia. Perdia a chave todos os dias, todos os dias a encontrava com a ajuda de JARBAS, JOSÉ, MÁRIO, LUIZ, MARIA JOSÉ, CAROLINA (LOLA), POMPEUZINHO e JOAQUINA que viviam no mundo encantado do CAMUTANGO, do SANTO ANTÃO, do CAIXÃO GRANDE, num “paraíso” chamado CAMBUCI, município do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Nossos pais não descobriram para que servia LÉLIA,que porta ou gaveta abria,mas nós,seus filhos,descobrimos que, por ser ela uma chave muito especial, é herança nossa,que continuará no mundo dos sonhos e que, com ela continuaremos encontrando:
- _a moldura sem espelho na qual Clemente fazia diariamente a sua barba. Um dia, nesta moldura havia um espelho, o espelho quebrou, a moldura continuou a ser pendurada sistematicamente na árvore e a barba, bem escanhoada a ser feita no costumeiro cerimonial. Clemente era sistemático, já falamos!
- -A lata de rosca. Clemente não gostava de rosca, mas as guardava em uma lata especial, comia rosca porque gostava do barulho.
- -A Estrela dos Namorados que nas noites bonitas mostrava aos sobrinhos adolescendo. Nunca namorou, mas queria que os sobrinhos entendessem e sentissem a beleza do amor.
- -A menina de Tombos do Carangola que visitava a família. A menina era Joaquina, a caçulinha da casa, que estava doente, problema de rins, inchada, e ele não reconheceram. Joaquina a se ver gorda vestiu uma roupa diferente, apresentou-se como visita e como tal foi recebida por Clemente. Não precisa dizer que Joaquina ficou de castigo por enganar o tio sistemático ou maluco como queiram julgar.
A SAGA DE LÉLIA
LÉLIA não é uma pessoa. LÉLIA é uma chave. Uma chave de porta ou gaveta, não sabemos, mas uma chave muito especial para nós, netos de POMPÉU BRAVO e MARIA MADALENA DE SANTA BÁRBARA MACHADO BRAVO.Pela imponência do nome vê-se que quem mandava era ela,vovó Nenê,quem acarinhava era ele,Vovô Pompeu.
Com esta chave, que nenhum filho descobriu, por mais que procurasse o que ela abria, os netos abrirão a histórias que nos encantam que nos foram passadas por nossos pais e que passaremos aos nossos descendentes e amigos que conosco riram e choraram em horas próprias e impróprias também. Com o nome escolhido reverenciaremos a memória de Clemente, irmão de Pompeu.
A SAGA DE LÉLIA
Com a abertura deste blog pretendo dar a todos os descendentes de Nenê e Pompeu a oportunidade de registro dos fatos da nossa história.
Queridos, conto com a colaboração de todos vocês, pois só assim teremos a leitura ditada pela saudade e pelo imaginário de todos nós que nos orgulhamos de nossa história.
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