quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AS MENINAS DE POMPEU


Nenê e Pompeu tiveram oito filhos, dentre estes três meninas; Maria José, a mais velha, nascida em 19 de março de 1915. Era dia de São José e ainda o pai de Nenê era o senhor Zeca Machado, portanto, nome do Santo. Maria José não poderia ter recebido outro nome. Vieram depois Carolina e Joaquina cujos nomes homenagearam as mães de Nenê, vovó Carola, e a mãe de Pompeu, Joaquina. É bom dizer que antes delas nasceram quatro meninos e que entre Lola e Joaquina mais um menino, Pompeuzinho. Joaquina é, portanto, a caçula. Acredito que a ordem cronológica tenha aproximado muito estas irmãs que viveram uma história de confiança e dedicação recíproca, exemplo que deixaram para nós, seus filhos e sobrinhos. Amavam seus irmãos incondicionalmente e ensinaram a todos nós a importância da família, do partilhar, de junto rir ou chorar, daí amarmos tanto uns aos outros, embora hoje vivamos em lugares distantes. Essa história teve início em Cambuci-RJ.

Maria José (tia Zezé), Carolina (tia Lola) e Joaquina (tia Quina) encontraram grandes companheiros – Antônio, Basílio e César.


Maria José casou-se com Antônio Cruz Silveira, cognome Estolaninho filho de José Pereira da Silveira, conhecido como Zezé Estolano e Ignácia Cruz Silveira, mas era carinhosamente chamado por seus sobrinhos de Titino. Ambos tinham origem rural. Pompeu ligado ao café e Zezé à cana de açúcar. Foram morar na Cachoeira, sitio anexo à propriedade de Zezé, que adquiriram por ocasião do casamento. A Cachoeira passou a ser o paraíso da segunda geração, a dos netos de Pompeu e Nenê. Lá tudo era possível, andar na chuva, andar a cavalo, tomar banho de cachoeira, ter dor de barriga, participar de velórios, ladainhas, procissões... Ser anjo, ser criança. Não pensem que eram irresponsáveis, não, não eram, simplesmente acompanhavam as crianças e respeitavam suas fantasias enquanto os faziam mais que primos, mais que sobrinhos, mas família que se ama se respeita e se completa!
Somos mais que primos, Somos irmãos e a isto agradecemos aos nossos pais e aos nossos tios e tias.  Eu, Apparecida, sou com muito orgulho a filha única de Estolaninho e Maria José e que foi a feliz dona do cavalo Ialú, no qual cavalgou seus sonhos de menina. Não tenho registro de como meus pais se conheceram. Acredito que tenham sido apresentados por amigos de seus pais, coisa usual nos anos de 1935. Sei que dançaram nos bailes realizados na casa da tradicional família Perazzo, em Cambuci RJ, em cuja zona rural ambos residiam e que então se apaixonaram.
Era o ano de1937. Em agosto de 1938, eu nasci. A vida era difícil, o trabalho árduo. O conforto doméstico seguia os padrões rurais da época. Não havia sequer rádio ou geladeira e a luz elétrica era gerada por dínamo movido pela força da água. Havia muita fartura. É o que hoje se diz-era um sítio auto-sustentável. Não havia automóveis, andávamos a cavalo, daí a importância de Ialú na minha infância. Nele eu ia à escola, nele eu integrava a comitiva de nosso avô Pompeu que levava todos os primos da casa de uma tia ou tio para outra, sempre na sombra de vovó Nenê. Lembro desse passado com carinho e saudade e tudo que mais queria era vivê-lo outra vez!
Como não poderia deixar de ser, nessa família também existiram amigos inseparáveis como Hermes Correa, Chiquinha e filhos ( da família Correa já citada como os grandes amigos de Pompeu e Nenê) e ainda Hermes Bastos e seus filhos Paulo e Marisa. Existiram também agregados e dentre eles destacamos: Sá Rosária, Jorge Meu, Jovem, Fulô, Zé de Fulô, Zeca Melo, Olimpio Melo, Inácia, Zinha Boi, compadre Demis e a filha Cidiná (composição de Cida com Inah, a filha do amigo Hermes Correa) dos quais falaremos em outro momento.


Carolina casou-se com Basílio, filho de Juca Terra e Elvira Garcia Terra. Também de família rural. Sei que e ele se encantou por Carolina durante uma festa religiosa na Igreja de N.S. da Conceição, na nossa querida Cambuci. Lola estava vestida de Coração de Jesus, linda, maravilhosa, olhou do alto do altar para o moço bonito, apaixonaram-se. O casal foi morar num sítio vizinho ao de Estolaninho e Maria José, mantendo próximas as irmãs o que facilitou a convivência das crianças. Em junho de l938, nascia a primeira filha, com o nome da padroeira da igreja onde Basílio e Lola enamoraram-se. A nossa querida Ceção que Deus acaba de levar em 12 de janeiro de 2010. Aí também nasceu Mauro Celso, o nosso Capitão e que também já encontrou o colo de Deus em junho 2004.


 

 O casal mudou-se depois para a Fazenda Bocaina, também no primeiro distrito de Cambuci e aí nasceram Pedro Antonio, segundo consta o preferido de vovó Nenê e Maria Elvira, a feliz proprietária do gato Lamisteque e que se tornou madrinha de minha filha, a maior prova de carinho que lhe podia dar. Mudaram-se mais tarde para a sede do município para facilitar o acesso dos filhos ao colégio. Quando Basílio já estava doente, tendo sido hospitalizado algumas vezes, conheceram Fátima, a amaram incondicionalmente e a adotaram. Fatinha é uma prima muito amada e orgulhou muito os seus pais e irmãos.
É importante dizer que foi tia Lola quem me alfabetizou. Muito mais importante, porém não foi o fato de alfabetizar, mas sim o motivo que a levou a tal. As primas Cida e Ceção não podiam se separar. Cida foi estudar na escola rural próxima da Fazenda Bocaina, passar os dias da semana na casa de tia Lola, ficando assim perto da escola. Acontece que Ceção era mais esperta, aprendeu a ler antes dos sete anos, não havia Jardim de Infância, aprendeu sozinha. Lola não podia permitir que sua filha passasse a sobrinha... Foi então que enquanto cuidada do nenê e lavava as suas fraldas, ensinava a sobrinha a ler e a alcançar a sua própria filha.




Esse gesto e muitos outros, próprios da filhas de Pompeu e Nenê são jóias para serem guardadas e tesouros a serem apreciados e transmitidos aos nossos descendentes.

Dentre os agregados da Bocaina destacam-se Alperino, Miúda, os filhos, dona Zefina (a parteira que caçava tatu a noite toda) as pessoas que trabalhavam na fabricação de azeite de mamona, farinha de mandioca, fumo de rolo e ainda do pequeno armazém que chamávamos de fornecimento, onde vovô Pompeu e outro velho atendiam os colonos. Havia ainda a senhora Maria Parreira e filhos que nos passaram uma doença de pele que Maria José tratou com banhos de cachoeira e sabão preto de fabricação caseira. Quase matou a filha e os sobrinhos uma vez que a doença era sarampo!

 
Joaquina, a caçula das meninas de Pompeu e Nenê, casou-se com César de Sá Carvalho, moço de Niterói, então Capital do Estado do Rio de Janeiro.
 Joaquina, menina bonita e prendada optou por mudar-se para a cidade grande com o objetivo de estudar e trabalhar. Como nesta família não podia ser diferente, foi morar com a irmã de Nenê, Benedita, carinhosamente chamada por tia Dita. É conveniente que se fale que Maria José e Lola, assim como os irmãos, também moraram com Tia Dita enquanto estudaram em Niterói. Assim a nossa mãe, nossas tias e tios também viveram experiências iguais as vividas por nós.
 Tia Quina enamorou-se de César, casaram-se, tiveram três filhos: Maria Madalena, Kleber e Denise e adotaram Zezé-Maria José dos Santos Rocha, nascida na zona rural de Cambuci, que havia perdido sua mãe biológica. Foi vovó Nenê quem primeiro recebeu Zezé em seu coração. A levou para Niterói e para a família Bravo de Sá Carvalho. “É filha biológica de Ananias Marques da Rocha, o homem que dependente de álcool sabia conjugar o verbo: Eu amo, tu amas, ele amava Izabel – “santa mulher“ segundo vovó Nenê. Zezé tem irmãos biológicos, todos eles pessoas respeitadas na nossa Cambuci.
 Lena recebeu o nome de nossa avó e Kleber o nome do pai de tio César.
 Da mesma forma que a Cachoeira marcou todos os netos de Pompeu, a casa de Tio César e tia Quina marcou a nossa adolescência e a nossa vida adulta. Eu, Cida, morei com eles durante oito anos. Foi morando com eles que terminei o segundo grau, hoje ensino médio, fiz vestibular, cursei Serviço Social na UFF, namorei, SONHEI, fui muito amada e muito feliz. Estava aí quando Denise nasceu e não só eu, como também meu noivo sabíamos que para nós ela seria sempre nossa. Vivi nessa casa, meu segundo lar, momentos de alegria, de preocupação, de insegurança, de crise, meus e de toda família, porque era na casa de César e de Joaquina, nos braços de ambos que nós nos refugiávamos e que todos nós buscávamos segurança, apoio, compreensão e amor. Buscamos e sempre encontramos! Todos os meus primos têm uma história para contar dessa convivência e sei que todos com o coração, sentindo-se amados por eles além da vida, do tempo e da morte. Lena e Kleber, meus queridos, sei que vocês sentem como eu que o tempo que passamos com as meninas de Pompeu precisa ser conhecido e reconhecido por nossos filhos e netos. TODOS DEVERIAM TER UMA MÃE E UM PAI COMO NÓS TIVEMOS E QUE TODOS OS PRIMOS DEVERIAM SE AMAR COMO NÓS NOS AMAMOS!
Compadre Cartola, Silete, compadre Lavanca (andarilho do morro Santa Teresa que trazia sua mudança num caixote e a levava às costas usando o Principio de Arquimedes. Dê-me uma alavanca que levantarei o mundo: ele levantava o seu mundo, a sua casa. São estes os agregados mais famosos. Dentre os amigos, o criador do Clube do Carequinha-famoso palhaço de circo e TV, Walfrido dos Anjos, de cujo clube Lena e Kleber eram sócios de carteirinha e  a prima Rodes e seu marido Alberto Prior - consertador oficial dos relógios da casa, são os amigos mais queridos.






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