Como não podia deixar de ser, nós- os netos de Nenê e Pompeu, fizemos amizade com as figuras populares do lugar e tivemos contato íntimo com as manifestações folclóricas cultivadas em nossa Cambuci na segunda metade do século XX.
Dentre estas destacamos A FOLIA DE REIS e o CAXAMBU.
Vivemos, a cada ano, a emoção da Folia de Reis. Era sempre na época do Natal. Os primos e os amigos ficavam concentrados na nossa casa na Cachoeira. Deitávamos cedo e ficávamos aguardando a batida da porteira que anunciava a chegada dos reis e quietinhos aguardávamos o canto dos foliões anunciando a chegada e pedindo permissão para entrar na nossa casa. Era o Menino Deus que chegava... Sua bandeira e seu séquito seriam recebidos após a terceira invocação: “... e abre a porta e recebei esta bandeira”. A emoção era grande, a bandeira recebida por meu pai percorria abençoando toda casa e toda a família. Era então cantada a história do nascimento do Menino Jesus e a perseguição por Ele sofrida pelos soldados de Herodes. Chegado o momento da apresentação dos palhaços que usavam máscaras terríveis de pelo de cabra, roupas coloridas de chita enfeitadas com fitas, espelhos, franjas e dançavam e diziam versos, o medo inicial era substituído pela alegria. Cada criança jogava moedas para o palhaço em reconhecimento aos versos que ele improvisava e cujo assunto era os causos da nossa família, da nossa roça, da nossa plantação. Garanto que era muita emoção! As moedas eram muitas. Significativa era a contribuição colocada na bandeira, para festa da folia. Saboroso e farto o lanche a eles servidos e preparado pela vovó Nenê. São memoráveis estas noites de amigos, medo, encantamento, folclore... Quanta saudade!
O CAXAMBU nos remete à Bocaina, casa de Lola, dia 29 de junho, Dia de São Pedro, aniversário de Pedro Antonio. Dia de festa, comilança, doces de Vovó Nenê... Terreiro da Bocaina enfeitado, fogueira acesa, primos, amigos, colonos... Tudo era festa. É aí que acontece a roda de Caxambu. Os tambores tocam, a cuíca puxa o canto e então mensagens em código são passadas e cabe a um dos participantes decodificá-las. Ficávamos muito impressionados, aquilo para nós era muito difícil. Sabíamos, então, que aquela era a maneira pela qual os escravos se comunicavam de senzala para senzala denunciando abusos, planejando fugas... Isto nos foi ensinado por Basílio e revivido muitas e muitas vezes. Vida longa ao Primo Pedro cujo aniversário nos proporcionava alegria, reflexão e cultura!
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